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22 de fev. de 2014

Ah, Ana!

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Última sexta-feira de janeiro. Eram cerca de 03 horas da manhã, um horário em que minha mãe, supersticiosa e religiosa, costuma acreditar que seja um pico de acontecimentos ruins. Lua nova. Não que alguma coisa nisso tenha um significado, mas é que meu subconsciente de alguma forma decorou cada detalhe daquele dia e daquela noite - ainda bem. Estávamos em seu quarto e aconteceu. Assim, sem peso de consciência. Depois de meses e meses de indiretas, brincadeiras e olhares paralisados, Ana e eu nos beijamos pela primeira vez.


Eu acho que deveria começar do ponto em que parei. Fiquei um bom tempo sem citá-la no meu blog, pois enxergava a ideia de nós duas juntas cada vez mais vaga, distante e platônica. A última vez que vocês me viram falar sobre ela, eu estava com um puta recalque (sim, não tem palavra melhor para me descrever naquele momento) porque ela estava ficando com uma garota do curso de inglês, Jaque.

Então. Nessa época, Ana e eu ainda estávamos muito próximas. Em todos os sentidos. Mas meu medo de investir, levar um fora e estragar nossa amizade me assustava demais. Conversávamos todos os dias, sobre tudo, em todas as redes sociais e aplicativos compatíveis entre meu Android e seu iOS. Ambas de férias, saímos muitas vezes juntas, com as demais meninas e eu sempre - eu disse sempre, sem falhar em um passeio - fazia questão de olhá-la nos olhos por um período longo e sorrir, na tentativa de deixar claro minhas intenções e na tentativa de desvendar quais eram as delas. Ela fugia, como se estivesse me querendo, mas acreditando que tudo que eu fazia não passava de brincadeira. Mas eu não tinha certeza se era exatamente isso que ela pensava, é só um palpite.

 As férias estavam chegando ao fim e eu não conseguia desistir de vez, nem tomar uma iniciativa drástica de uma vez por todas. Eu continuei em cima do muro, investindo discretamente, sempre com os dois pés atrás. Até que chegou essa sexta-feira. Era minha última chance, eu sabia! Combinamos de sair à tarde para nos despedirmos das noites de sexta livres (parte das meninas estudam à noite, inclusive eu). Saímos. Jogamos boliche e depois fomos para um bar que adoramos, e que eu vou chamar aqui de Balaio de Gato, para preservar ao máximo nossa identidade ultra-secreta (eu espero que você me entenda). No dia anterior, eu já sabia que precisaria de uma desculpa para dormir na casa de Ana. Inventei uma bobeira qualquer e ela disse que sim, sem problemas, que fazia questão que eu dormisse lá.

Enquanto estávamos no Balaio, não ficamos muito juntas como sempre porque nesse dia parece que todos os nossos conhecidos resolveram se encontrar no mesmo lugar. Era muita gente, muita atenção para disputar e distribuir. Vez ou outra conversamos em nosso grupinho fechado, porque uma nova garota, também do curso de inglês de Ana, estava investindo pesado nela. E Ana a queria também, sem sombra de dúvida. Havia pouco que ela perdera a virgindade com um homem e agora estava faltando uma mulher. Ela queria. Casual e simples, do jeito dela. Ao ver a conversa das duas, fui desistindo aos poucos de dormir na casa de Ana, pois a tal garota estava pensando em nos encontrar e depois roubar Ana para algum lugar mais ultra-secreto que minha identidade verdadeira (não estou dizendo que eu seja a Mulher Maravilha, só estou dizendo que ninguém nunca viu nós duas, juntas, em um mesmo lugar. Eu viajo demais, me desculpem).

Acontece que furou. A garota não poderia ir mais porque teve um imprevisto e acabou combinando de encontrar com Ana no dia seguinte, a tarde, no mirante ou coisa assim. Eu continuava na dúvida se iria com Ana ou não, parei de pensar e deixei a noite resolver. Acabei indo. Nós duas estávamos cansadas, pois tínhamos acordado cedo no dia, mas ambas insistiam em repetir que haviam perdido o sono por causa da cerveja e coisa e tal. Compartilhamos ideias, vídeos engraçados de whatsapp e jogamos Minion Rush. Por muito tempo. Por três horas, para ser exata. O tempo todo ela se aproximava de mim, rosto a rosto, com a desculpa de querer me mostrar algo diferente na atualização de seu celular. Eu fazia o mesmo, obviamente. Até que eram três da manhã.

Ana apoiou-se na beirada de sua cama e me olhou, sem parar, dizendo que achava que já estava tarde. Sim, estava tarde. Era agora ou nunca. Eu realmente não sei se o que ela disse foi uma espécie de indireta com simancol para mim, mas foi assim que eu interpretei e é isso que importa. Me aproximei. Colei meu rosto no dela e meu coração disparou, porque nunca nossos olhos estiveram tão perto um do outro. Ela sorriu meu apelido: "Ah, Bia!". Vocês nunca vão entender a maciez com que essa frase foi dita, a não ser que vocês conheçam Ana e tenham a sorte de tê-la carinhosa em algum momento da vida. Mas, para tentar entender o que estou dizendo, tentem pensar na voz mais macia que conhecem - talvez ela se aproxime da voz de Ana. Depois dessa exclamação e do sorriso que a acompanhou, nos beijamos.

Eu queria dizer que sua boca tinha gosto de morango e cigarros, como vi uma garota contando uma vez em uma página do Facebook sobre a primeira vez em que beijou outra garota. Mas não posso dizer isso só para deixar meu texto poético. Seu beijo não tinha gosto de morango, apesar de ter um pouco do cigarro. Seu beijo tinha gosto de Ana, e só. Tinha o gosto de todos os sorrisos gigantes que ela me arrancou quando conversávamos pelo celular ou computador, e o gosto de todas as batidas rápidas do meu coraçãozinho aventureiro. Ela me chamou para sua cama, cochichando e sorrindo, com cara de sapeca. Nos beijamos, nos pegamos, nos apertamos, nos tocamos e nos sentimos. Algumas peças de roupas foram perdidas, mas o sexo ficou pela metade quando concluímos que, com os pais dela no quarto da frente, ali não era o melhor momento. Entre brincadeiras esforçadamente silenciosas, tive um orgasmo. Era a primeira vez que Ana fazia uma mulher chegar lá. Isso me deixou com mais vontade de continuar, mas ela estava com muito medo dos pais e não quis. Terminamos a noite com cafunés e mais beijos devidamente não-estalados. No meio da noite acordei e tive que sair da cama dela por causa da mãe qua apareceria ali logo de manhã. Ainda assim continuamos o mais próximas possível, trocando carinhos. O quarto estava completamente escuro e eu não conseguia parar de sorrir. Não consegui ver o rosto de Ana, mas algo me diz que, com certeza, ela também estava assim.

Até hoje me pego sorrindo só de lembrar.
Amanhã vamos nos encontrar pela primeira vez depois dessa sexta-feira.
Para fins de direitos de imagem, a foto utilizada neste post não é de minha autoria.

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