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6 de abr. de 2014

Por que dois?

Você acredita no poliamor?


angel-gaiola

Quando a gente fala em amor livre, os outros já vêm pensando em Woodstock, um monte de hippie pelado e peludo transando na grama. A mulher de um cara pegando outra mulher e ele de pau mole comendo um cachorro-quente pra espantar a larica do haxixe que acabou de fumar até entupir o c*.

Está na hora de quebrar esses (pré)conceitos.

Estou em um relacionamento "sério" há mais de 3 anos. Um namoro. Convencional. Ele vai à minha casa, eu vou à casa dele, dividimos a pipoca do cinema, a barra de Diamante Negro, a conta do motel. Transamos regularmente, conversamos até de madrugada, consolamos um ao outro, suportamos o bafo matinal, levamos um ao outro ao hospital e usamos um anel de prata no anelar direito. Coisas que namorados fazem. A dois. Somos dois. Mas... por que dois? Você nunca parou para se perguntar? Porque eu me pergunto. Quase todos os dias.

Quem foi que inventou a monogamia? E quem inventou que o amor é feito em pares? Discordo. Discordo, primeiramente, da teoria da "metade da laranja". Acredito que cada pessoa é uma laranja inteira, inteiríssima (digníssima de ser chupada por uma boca boa, diga-se de passagem). Não gosto dessa ideia de que existe uma outra metade, uma tampa da panela, um pé rapado pro seu chinelo velho, que vá te completar. Acho melhor e mais sensato pensar que cada um de nós somos inteiros e, então, as demais pessoas são apenas outras frutas, maçãs, laranjas, bananas, que vêm à nossa vida, mas não para nos completar, e sim para torná-la mais colorida, mais interessante e alegre. Acredito que, a partir do momento em que você se olhar no espelho e pensar: Caralho! Eu sou mesmo uma laranja inteira! Não tem uma metade minha perdida por aí!, você vai se sentir melhor consigo mesmo e se relacionar melhor também.

Discordo também que o amor foi feito aos pares - esse papo de alma gêmea, sabe? Não. Não é possível que um sentimento tão lindo, complexo e, ao mesmo tempo gostoso, possa ser tão padronizado! Acredito, sim, meus amores, que podemos amar várias pessoas ao mesmo tempo. E não estou falando de amor de irmão, de mãe, de pai. Estou falando de amorzinho mesmo, esse que faz a garganta secar e o coração se encher, esse que dá frio na espinha e calor nas pernas. Falo mesmo deste amor, do poliamor.

Quem acompanha as bobagens que posto por aqui sobre minha vida pessoal, sabe que tenho um namorado, ao qual me refiro como Bernardo. Mas que também tenho uma paixonite não definida por Ana. E foi quando percebi que estava apaixonada por Ana, mas ainda amando Bernardo, que concluí que essa história de amor unilateral e exclusivo é uma baboseira só. Pelo menos para mim.

Não há, pois, neste mundo profano, uma filosofia mais linda do que a do amor livre. Você deixa seu amor... livre. É simples assim. E deixa com a certeza de que, enquanto o amor ali for verdadeiro, ele voltará para você, independentemente de quantas outras almas ou corpos venha a conhecer. Prender a pessoa amada a você por medo de perdê-la é egoísmo. Já parou para pensar que não tem lógica? Se alguém te ama, esse alguém te amará, querido leitor, estando ou não preso a você. E, se essa pessoa for deixar de te amar na manhã seguinte, na semana que vem ou daqui três anos, isso vai acontecer, quer vocês estejam presos por um contrato de exclusividade, quer não estejam. Outras pessoas, outros olhares e outros sorrisos sempre hão de existir. Gosto de acreditar que, quando duas pessoas foram feitas uma para  a outra, elas, eventualmente, se encontrarão no final. Ou várias vezes durante a história de suas vidas. Mas gosto mais ainda da ideia de não precisarem nem se perder. Vocês podem viver juntos, mas sem estar privados de conhecer "o mundo lá fora". Por que não?

Não estou imaginando uma putaria louca, desenfreada. Se for assim, melhor continuar solteiro. O que defendo é uma liberdade sensata, onde as duas partes concordam com um relacionamento mais "aberto". Você namora o João, mas, certo dia, se pega pensando demais na Camila. Por que não conhecê-la melhor então? E se a sua felicidade for com ela? E se você se apaixonar pelo Mateus da faculdade e ele for mais um pedaço da sua felicidade? E se não for? Acho que experiências que valhem a pena não devem ser desperdiçadas. Mas só as que valhem a pena. E se Camila e João forem, naquele momento da sua vida, os itens essenciais à sua felicidade? Você vai querer continuar abrindo mão de parte dessa felicidade até quando? Está com medo de quê?

A ideia do poliamor não é invenção da minha cabeça.
Comecei a ler sobre o assunto quando tive essa epifania que citei mais acima: estou, sim, amando duas pessoas ao mesmo tempo. Comecei a ler e conversar com pessoas específicas quando meus amigos, ao ouvir meus desabafos, me julgavam, diziam que eu era carente, que estava confusa, e que iria acabar ferindo os sentimentos de Ana ou de Bernardo por causa de minha confusão (foi inclusive nessa época que criei o Bia, como válvula de escap mesmo). E a ideia do poliamor é linda. Linda mesmo. Conheci várias histórias de casais que, eventualmente, levam uma terceira pessoa para suas camas. E de casais que se permitem sair separados, com pessoas diferentes, quando essas são realmente atraentes e mexem com uma das partes. Alguns casais, inclusive, conversam sobre essas outras pessoas. Abertamente. Dá certo. E dá certo há ANOS. A maioria mora junto ou estão casados mesmo, de papel passado e tudo!

Acho bacana, bacaníssimo, bacanérrimo, casais que dão certo vivendo apenas entre si. Sem relacionamentos extra, sem conhecer outras pessoas, sem experimentar outras pernas, braços e abraços. Acredito que o importante é o combinado. E que o combinado deve sempre suprir os anseios de ambos. Portanto, eu gostaria de fazer um pedido encarecido a todos os namorados, noivos, maridões e maridonas que me leem por aqui. Juro que é de coração *-* Se você tem um companheiro, e ele(a) quer um pouco de liberdade, demonstrou interesse por outra pessoa, não faça com que ela tenha que escolher. Deixe-a livre para experimentar, sem impor sobre ela o fardo de ter que escolher entre você e a liberdade. Permita que ela tenha ambos e, assim, você também terá ambos.  Se você ama alguém, deixe-o livre. Se ele voltar, que alegria! Se não, não era pra ser. O melhor e o pior da eternidade dos relacionamentos é que ela pode ser passageira.

Ps: Gostaria muito de ouvir a opinião de vocês :*



Para fins de direitos de imagem, a foto utilizada neste post não é de minha autoria.

6 comentários:

  1. É Bia, eu nunca tive essa vontade de dar amor a outra pessoa num relacionamento, porque apesar de sempre deixar claro que eu concordo que uma pessoa pode amar várias, e que isso não é nocivo, eu costumo ceder ao desejo da parceira ( pelos motivos mais clichês mesmo...) de sermos monogâmicos, e "fièis"...
    Olha, acredito que você tá preparada (na medida do possível!) pra assumir os riscos de seus desejos. Mas fazer escolhas sempre implica em ganhar x perder... Não sei te dizer uma forma que tenha só vantagens...
    Texto bacana hoje! Traduziu com melhores palavras do que eu conseguia me expressar dessa "poligamia" !!!

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    1. De forma alguma são só vantagens, né? Relacionamentos sempre implicam em coisas boas e coisas difíceis, complicadas e um relacionamento aberto (especialmente na nossa cultura) é algo carregado de riscos.
      Mas, sinceramente, no meu caso, são riscos que estou disposta a correr rs'

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  2. Bia, Obrigada por compartilhar seus pensamentos. É legal saber que tem gente mundo afora pensando assim também. Pensar diferente do convencional, do tradicional, não é tão facil... Enquanto eu questiono sobre isso (quase todo dia também), o resto das pessoas dizem que todos precisamos de um relacionamento (monogâmico) pra ser feliz - e, se você não tiver uma cara-metade, sua vida nunca estará plena. Não é fácil se desvincular de uma ideia tão consolidada na nossa cultura.
    Acho que muita gente confunde amor com possessão, e o medo de outra pessoa fazer "seu amor" feliz causa tanta insegurança que preferimos restringir o mundo dela/dele à nós.
    Gosto da ideia de ele/ela estar comigo por que assim decide todos os dias, por que assim é mais feliz - e não por causa de acordos e moralidade (ainda que não ache fácil quebrar esse conceito tão sólido de relacionamento monogamico na minha cabeça).
    Só discordo da última frase: ele ou ela não é seu, mas decide diariamente estar ao teu lado. E se algum dia não voltar, não desmerece tudo que vocês viveram.

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    1. Júlia, analisando bem até que a última frase não tá legal mesmo não... hahahaha'

      Vou dar aquela modificada rs
      Obrigada!

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  3. Biiia, se liga nesse vídeo; http://vimeo.com/23988620
    sua cara!

    Ainda não sei meu posicionamento sobre isso, mas acho que somos livres, e porque não poliamor? Acho que tenho um pouco de receio.. sempre vi relações monogâmicas, mudar esse ponto de vista vai ser com muita clareza e entendimento.. Acho que por eu nunca ter vivido um relacionamento ou uma fooorte paixão (só coisas como diriam, amor de verão ") , ainda não sei bem o que é esse poliamor na realidade..

    Seus textos são sensacionais, melhore sempre assim!
    G.L.

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    1. A-MEI!
      Achei um pouco superficial, mas muito bonitinho! *-*
      Vou escrever um post sobre esse vídeo rs
      Obrigada lindx!

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