Sobre casais de longa data que perderam o hábito mais gostoso que o amor produziu.
Incomodada com uma mudança que percebi em meu relacionamento, passei a reparar os demais casais com os quais convivo e constatei, tristemente, que, acreditem se quiser, casais de longa data tendem a não se beijar mais.
Os primeiros meses de relacionamento, ou talvez até os dois primeiros anos, costumam ser os mais intensos para a grande maioria dos casais, tanto no que se refere à afetividade tanto quanto à sexualidade do casal. Em mesas de conversa com amigos é sempre possível perceber que, quando o assunto é relacionamento sério, sempre alguém, após soltar um suspiro muito sincero, revela o quanto tem saudade da fase inicial de seu namoro. Normal, você pode pensar, mas, por quê? Está correto achar que isso tudo é normal? Está legal achar "normal" a rotina, a falta de afeto, a falta de adrenalina e de paixão? Me pergunto isso constantemente e afirmo como se fosse a dona da verdade que a resposta é não. E, se tem um culpado direto pela incrível fase que o início de um relacionamento representa na vida de alguém, esse culpado é o querido, amado, adorado e molhado beijo na boca.
Em relacionamentos de longa data, sejam eles relacionamentos abertos ou não, sérios ou não, a tendência natural do sexo é que ele se torne cada vez melhor. Sexo por sexo é bom, variar é bom, mas nada substitui uma transa incrível que envolva amor verdadeiro e, ainda além, nada substitui uma transa incrível com alguém que te conheça bem. Me chamem de careta, me joguem pedras, mandem me prender - Bianca, a porra louca meio hétero meio sapata que defende o amor livre está falando isso??? - Sim, estou. Sexo com intimidade é, sim, o melhor sexo do mundo. Devaneios a parte, fazer amor com alguém com quem conhecemos bem e com quem temos a tão gostosa intimidade é algo impagável, uma vez que, quando somos íntimos de nosso parceiro sexual, nos sentimos muito mais abertos a falar sobre nossas fantasias, a explorar nossos desejos e a descobrir coisas novas sem medo de ser feliz. Acredito, talvez, que o ideal não seja nem somente sexo com amor, mas sim sexo com intimidade. E intimidade está muito além de ficar deitada sem se cobrir com a pele toda suada, muito além de fazer e receber sexo oral sem que as depilações estejam em dia, muito além de ficar pelado de pau mole na frente dela.
Entretanto, embora o tempo seja um aliado do bom sexo, se faz um inimigo quase oculto do beijo na boca, o bom e velho beijo na boca e, por mais que isso possa parecer natural, é um problema relevante. O sexo, mesmo em relacionamentos que estão definhando, é uma necessidade do corpo de todas as pessoas sexualmente ativas e, portanto, ele está presente. Mesmo que, em um relacionamento de longa data, a frequência diminua, pode haver compensação pela alta elevação do nível da relação sexual em casais com maior intimidade. O beijo não. O beijo não é uma necessidade física, não é um instinto natural biológico do ser humano, não é mecânico. O beijo na boca é a mais linda e gostosa representação de afeto, de amor, de carinho e, por isso, ver que casais de longa data não se beijam mais me corta tanto o coração.
Ouso ser ainda mais audaciosa ao dizer que, talvez, em relacionamentos extra-conjugais, o indivíduo que trai não esteja, necessariamente, procurando por sexo, mas por todo um conjunto da obra, por um amante que, além de sanar seu apetite sexual, o beije na boca, itensamente e expresse, na movimentação de cada músculo da nossa boca que se mexe, tudo aquilo que o namoro/casamento tem deixado a desejar. Dentro do relacionamento, vale ressaltar a importância que o beijo intenso tem na manutenção da libido do casal. Casais juntos há mais tempo que tendem a deixar o beijo de lado estão, efetivamente, deixando de provocar, um no outro, sensações de desejo e despertares de amor que só o trocar das salivas e o encostar dos quadris que o acompanha podem causar.
Quando estamos apaixonados por alguém, por mais que possamos acreditar que o estopim da realização dessa paixão seja a relação sexual, acredite, você não se sentiria da mesma forma se sua paixão platônica não fosse outrora concretizada por um beijo na boca. Acho que isso resume bem: o beijo na boca é a concretização das paixões, dos amores e dos afetos que carregamos pelo outro e, se tem sido deixado de lado no seu relacionamento, já passou da hora de buscá-lo de volta.
Portanto, pare tudo, deixe de amar como um homem da terra e passe a amar como um homem do mar, como disse Jorge Amado. Ao sair de casa, beije seu(sua) namorado(a) como se não fosse mais vê-lo na vida, beije e sinta como seu corpo precisa do corpo do outro, sinta como vocês são quentes quando estão juntos, sinta as reações do corpo do outro que seu beijo pode causar, sinta as reações da alma do outro que só o seu beijo pode causar. Dêem beijos de cinema quando estiverem no cinema, quando se despedirem pela manhã, quando se encontrarem à noite, quando tiverem orgasmos na hora H, quando estiverem quase tendo orgasmos na hora H. O beijo na boca pode fazer pelo seu relacionamento coisas mais incríveis do que você imagina. Espalhem o amor de vocês por aí.
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