, feliz, inteiro. Nós não. Estamos cansadas, exaustas, às
vezes até um pouco feridas, mas tapamos o problema com um pouco de água morna e
um band-aid. Várias noites se seguem e, apesar da puta diversão proporcionada,
a cena sempre se repete.
Antes de procurar de novo por aquele salto alto que tanto machuca nosso coração, ops, quer dizer, pé, retomamos à nossa consciência. Ela acha melhor não: "Vai de sapatilha, aquela sua amiga que é a sua melhor companhia! Esse salto alto não te merece!". A gente até pensa na sapatilha, nossa melhor amiga: dá para beber, beijar e curtir a noite inteira, porque ela só está ali pra curtir junto, mas esse tal de salto alto tem uma coisa que nos chama... (não dá pra saber se é aquele perfume, o cabelo bagunçado, as mordidas nos lábios, as mãos bobas ou o sorriso maroto). O escolhemos uma, duas, três, infinitas vezes, até que nossos pés não aguentam mais este maldito, que inverte seu papel e nos usa para sair à noite, acompanhado de uma garota bonita de vestido justo. Nos exibe para todos os seus companheiros de espécie, um mais atamancado que o outro. Nossos pés - parece de repente, mas não foi - se cansam de ficar dando bola para um sapato que só serve de aparência, só machuca, judia e nunca se cansa disso.
Nossa melhor amiga, a
sapatilha, está ali. Nos faz aquele brigadeiro de panela, engorda junto
conosco, chora junto também, e nós a usamos como consolo, para curar esses pés
machucados que não aguentam mais sofrer. E é nessa hora que, abrindo os olhos
para o que o grande closet da nossa vida amorosa tem a mostrar, percebemos, ali
mesmo, no cantinho escuro dos ignorados, um tênis que sempre fez de tudo para te
ver feliz e confortável, mas que nunca recebeu sua tão sonhada atenção. A gente
olha para o tênis, usa e percebe que salto alto é só para uma noite ou outra de
diversão, sem compromisso. Você pode até usar aquele Scarpin MARAVILHOSO pra se
sentir poderosa um dia ou outro e fazer invejinha nas outras que ainda não
conseguiram, infelizmente, desapegar de seus respectivos saltos. Entretanto, o
único que vai estar com você na alegria e na tristeza, pra ir em shows ou ir à
luta, com maquiagem ou sem, de TPM ou não e que, principalmente, não vai
machucar seus pés é ele. Mas não é por ser um simples tênis sem graça e sem cor
que o devemos desprezar! Ele é pau-pra-toda-obra (e é no mau sentido mesmo que
estou falando). A diferença pro salto é que, com um belo pisante, dá para você
quebrar tudo sem sair machucada, arrependida ou com a consciência pesada. Pelo
contrário, você se sente leve, satisfeita, e não quer nunca mais tirá-lo dos pés.
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