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23 de dez. de 2014

Respeito

O Feminismo também apoia as mulheres que ganham dinheiro usando o corpo.

Dani Bolina - Sexy Abril 2014
Foto: Piero D'avila - Revista Sexy (abril 2014)
Bruna Surfistinha. Garota de classe média, virou puta porque quis. Ficou rica, famosa, ganhou vida no corpo, voz e alma de Deborah Secco. Independente, se afundou e reergueu de diferentes vícios, quase perdeu tudo, inclusive a vida. Não, meu objetivo aqui não é colocar Bruna como heroína suprema. Meu objetivo aqui é mostrar que, independentemente do que uma mulher faz para ganhar a vida, toda mulher é uma heroína. E tentar entender porque falta tanta sororidade quando o assunto é a mulher prostituta, a mulher panicat, a mulher atriz pornô, todas, acima de tudo, mulheres.

Em diversas discussões que presenciei a respeito da regulamentação da prostituição no Brasil - discussões muitas vezes iniciadas pelo projeto de lei do deputado Jean Wyllys (PSOL) - a divergência de opiniões não me surpreende. Ver mulheres e homens que concordam e que discordam da prostituição não me surpreende. Ver mulheres e homens que acreditam que todas as prostitutas estão ali por escolha, apesar de me incomodar, não me surpreende, da mesma forma que não me surpreende ver mulheres e homens que, por outro lado, acreditam que nenhuma mulher quer ser prostituta. Nada disso me surpreende. São visões de mundo que existem e, principalmente, visões de mundo de uma maioria esmagadora que sequer convive com alguém pertencente ao mundo da prostituição. Não me surpreendo. O que me choca, entretanto, é o preconceito cuspido em cima da mulher que tira seu sustento (ou seus luxos) da venda de seu corpo.

Sim, nós podemos achar de péssimo gosto programas de TV e comerciais de cerveja que objetificam o corpo da mulher. Nós podemos e devemos achá-los ruins, devemos analisar a situação da nossa sociedade e entender, de forma crítica, o porquê do corpo da mulher ser uma fonte de lucro para a publicidade, para as cervejarias, para as montadoras de automóveis, para os donos de emissoras de televisão, para o Sistema. Mas é importante que, ao criticar e analisar a forma na qual a mulher é exposta no Programa Pânico ou na propaganda da Devassa, retiremos da atriz, da modelo, da panicat, os preconceitos que carregamos em cima dessas mulheres. É importante lembrar sempre que, acima de todos os julgamentos que possamos carregar, está a defesa do Feminismo em prol da liberdade de escolha da mulher. Se a mulher escolheu ser panicat, respeitemos. Se ela escolheu ser prostituta, respeitemos. E se ela não escolheu, se acreditamos que a modelo do comercial de cerveja só está ali por uma imposição cultural, se acreditamos que a atriz pornô só está ali porque não teve outras oportunidades na vida, se acreditamos que a prostituta só está ali por desespero de sustentar financeiramente algum vício (ou até algum filho que ela tem) temos um papel ainda mais importante a desempenhar: o de jogar fora as pedras que tendemos a atirar e substituir pela mão que ajuda, pela voz que apoia e pelo abraço que não julga a prostituta, a modelo, a "gostosa".

Tente fazer uma limpeza.

Primeiro, molhe esse rosto que entorta e revira os olhos ao ver uma mulher de roupa muito curta na academia. Lave essas mãos que atiram pedras na mulher que faz sexo por dinheiro, na mulher que faz filmes eróticos por dinheiro, na mulher que faz filmes íntimos com o namorado e é exposta, mesmo sem que dinheiro algum esteja envolvido. Lave as mãos. Lave a alma desse preconceito que você carrega contra a mulher que gosta de transar com vários homens, contra a mulher que não espera o terceiro encontro para fazer sexo, contra a mulher que, mesmo solteira, carrega preservativos na bolsa e anda com o anticoncepcional em dia, contra a mulher que vai de micro-saia para  o baile funk. Isso não é da sua conta.

O Feminismo não é um movimento que defende apenas a emancipação financeira da mulher casada que quer trabalhar fora, não é um movimento que defende apenas a liberdade sexual da mulher homossexual, não é um movimento que defende apenas a livre escolha para as roupas que queremos usar para ir à balada ou à academia. O Feminismo é um movimento de todas as mulheres, para todas as mulheres. Lave sua alma desse preconceito. Tem mulher que gosta de sexo com mulher, mulher que gosta de chupar um cara que acabou de conhecer, mulher que gosta de fazer sexo anal. E tem mulher que gosta de ganhar dinheiro com sexo. E tem mulher que gosta de usar biquíni em rede nacional. E tem mulher que gosta de fisiculturismo, de gravar vídeos eróticos, de postar foto de shortinho no Facebook. Ninguém é o corpo que tem e todo mundo pode fazer do seu corpo o que bem entender.

Aceita que dói menos. Respeita que ajuda mais.
Para fins de direitos de imagem, a foto utilizada neste post não é de minha autoria.

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