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1 de abr. de 2015

Alice


Sabe, preciso de adrenalina na vida. Para escrever, para me sentir bem, para viver. Já tinha um tempo que as coisas andavam meio paradonas, mas, então, desde que saí da faculdade na sexta-feira, tenho vivido uma das paixões mais intensas da minha vida ainda pouco vivida. Alice.

Era por volta de 23h, eu tinha acabado de comer um temaki horrível e caro no caminho para casa e meu fracasso na apresentação de um trabalho estava me consumindo. Moro próximo a uma agitada praça de BH que, às quartas e domingos, fica lotada de cruzeirenses e atleticanos de classe média-alta, falsamente fanáticos por futebol e verdadeiramente fanáticos por cerveja e, às quintas e sextas, fica lotada de casais de papel passado tentando quebrar a rotina com porções de fritas e rios de chopp nas mesas de bar e de jovens cheios de piercings segurando suas garrafas de vodka e aprendendo a fumar de forma desajeitada cigarros oriundos do Paraguai.

Em um dos bares que formam o "circuito" da praça, havia música ao vivo. Nada fora da rotina do bairro, exceto por um detalhe: a voz que dominava o microfone e as mãos que passeavam pelas cordas daquele violão eram de uma mulher, uma grande novidade para mim (que moro ali desde 2012!). Como sempre, atravessei a rua de frente para o bar, observando vagamente as pessoas que ocupam suas mesas e devoram suas batatas-fritas. Ao passar, rapidamente, os olhos pela cantora da noite, percebi que seus olhos estavam fixos em mim. Ela cantava "Quando o Galo Cantou", Caetano Veloso e, não sei se pela irreverência de cantar em um bar de gente chata uma música que ninguém conhece ou pelo incrível par de olhos castanhos que não se desviaram do meu olhar, o fato é que minhas pernas ficaram estagnadas na calçada do bar e meus ouvidos amarrados àquela voz.


Enquanto cantava esses versos, o par de olhos castanhos sorria para mim. Entrei no bar, fui ao banheiro, ajeitei o cabelo, retoquei o delineador dos olhos e peguei uma mesinha de canto. Pedi uma Áustria e dois copos. Quando chegaram, levantei, discretamente, um dos copos para ela, que piscou e sorriu em resposta. Mais longos vinte, trinta minutos de música, ela deu um intervalo e veio até minha mesa. Sentou-se de frente para mim: "Você tem os olhos muito bonitos, mas, infelizmente, não vou poder te acompanhar na cerveja...". Meu sorriso ficou amarelo. "Tenho que segurar mais 40 minutos de voz, esse gelo iria acabar com meu cachê". Sorri, sugeri uma garrafinha d'água, ela rejeitou. Não precisava pagar pela água e ainda prometeu roubar-me uma garrafinha não muito gelada. Levantou-se, pegou o violão, deu um novo "Boa noite!", ignorado pela maioria dos clientes do bar, e puxou algumas variações de ré que introduziriam "Suddenly I See", KT Tunstall. A voz dela era incrível e os 40 minutos, por incrível que pareça, se passaram como um piscar de olhos. Ao fim de "Luz dos Olhos", despediu-se do público, recebeu uma dúzia de aplausos e guardou o violão. Após sumir por cerca de dez minutos da parte externa do bar, voltou. Sentou-se à minha mesa, novamente de frente para mim, pegou em minha mão e se apresentou: "Alice". Fala sério, Alice, eu amo seu nome. Quero ter uma filha com seu nome.

Seu perfume era muito gostoso. Alice tinha basicamente a mesma altura e o mesmo corpo que eu. Entretanto, era mais branca, tinha os cabelos entre o liso e o ondulado, com uma cor entre o castanho e o ruivo muito escuro. Cílios grandes, em grande quantidade, sem maquiagem; meia dúzia de sardas em cada face, lábios um pouco mais carnudos que a média e roupas de cores discretas. Nosso papo era incrivelmente bom. Ela falava sobre Tom Jobim, sobre seus pais e sobre Castro Alves, eu falava sobre Chico, sobre minha mãe e sobre Drummond. Tudo era arte, respirávamos arte. Quando deixei escapulir algo sobre o surrealismo de Dalí, Alice deu um pulo, apertou minha mão e disse, muito empolgada, que ele era seu artista preferido no mundo. Dali em diante, descobri que ela era estudante de Artes Plásticas, tinha talento para aquarelas, mas gostava mesmo de pintar gente. Não gostava muito de esculturas, mas encarava como uma terapia. Acabara de fazer 24 anos, morava sozinha em um apartamento apertadíssimo no centro de BH, mas o coração era paulistano. O choque veio quando me contou que tinha uma filha, Clara, de 3, quase 4 anos. Essa doeu.

Clara era fruto de uma recaída com um ex-namorado de longa data que nunca deu certo. Fruto de um relacionamento abusivo: ele não a deixava sair sozinha com amigos homens, controlava seus horários, sua rotina, buscava-a no trabalho sem que isso fosse combinado e, por fim, ficou descontrolado quando ela contou que estava envolvida com uma ex-namorada da época do Ensino Médio. Alice apanhou e, então, foi embora de São Paulo. Veio para Belo Horizonte morar com um casal de amigos e, após se ajeitar financeiramente, alugou seu próprio cantinho. Em 2011 o ex-namorado apareceu e eles transaram uma única vez, o suficiente para que ela engravidasse. Atualmente, a guarda da filha é compartilhada, 15 dias para cada um e, segundo Alice, o ex se tornou uma pessoa completamente diferente após o nascimento da filha. Felizmente, ela não o ama mais e a relação agora é amarrada apenas pelas necessidades da criança. Ele se mudou para BH com a mãe viúva, morava em um bairro sossegado e não tinha problemas com a criação da filha. Amanhã Clara estaria com a mãe, o primeiro dia de duas semanas com uma criança em casa.

Passado o assunto pesado, voltamos a falar bobagens artísticas, políticas e sociais. Brincávamos de tentar dublar as conversas dos casais mais clichês do bar e o resto da noite foi só gargalhada.

- Tenho que ir, disse.
- Moro aqui perto, você não precisa encarar Cristiano Machado a esta hora.
- Tudo bem, estou de carro.
- Pior ainda. Vamos para minha casa, você deixa o carro próximo ao batalhão da polícia, ele vai estar inteirinho amanhã de manhã.
Ela se convenceu, levantou a franja colocando a palma da mão sobre a testa e riu: "Durmo no sofá".
Sim, Alice, você é quem manda.

Chegamos. Quando eu terminava de trancar a porta ela se aproximou de repente. Virei e ela estava ali, seus olhos me encaravam desesperadamente. Me cercou com os braços apoiados na porta, sorriu, mordeu os lábios. Nos beijamos. Eu teria que rodar cerca de dois anos até me lembrar de um primeiro beijo de mulher que me deixasse tão empolgada. Foi com Ana e já faz um tempo. Ela me espremeu na porta. Soltei a presilha de seu sutiã, passei alça por alça e o puxei por baixo da blusa. Seus seios se apertavam contra os meus e nos beijávamos sem pudor: na boca, atrás da orelha, no pescoço, no colo. Desci parcialmente sua calça, uma legging de algodão mais confortável que meus pijamas de verão, e comecei a passear meus dedos por cima de sua calcinha, sentindo que ela ficava cada vez mais úmida. Seu corpo amoleceu e, aproveitando a deixa, inverti a situação, prendendo-a na porta e ficando livre. Subi sua blusa, beijei sua barriga, suas costelas, seu seio. Ela tinha um piercing no mamilo esquerdo que nunca mais vou esquecer. Minha primeira assim. Fiquei muito excitada, puxei-a para um beijo e, sem que desgrudássemos os lábios, fomos para meu apertado e desengonçado sofá vermelho. Ela tirou a própria blusa, tirou a minha. Passeava lentamente as pontas dos dedos, com resquícios de unhas, pelas minhas costas e, o tempo todo, me comia com aqueles olhos castanhos cheios de cílios. Eu estava decidida a fazê-la gozar, decidida a fazer com que Alice quisesse voltar na semana que vem, no mês que vem.

Sentei-me em cima dela, prendi seus braços no sofá e voltei a beijar-lhe o corpo. À medida em que eu me aproximava de sua virilha, ela afobava a respiração. Usando língua e dedos, brinquei ao redor de sua vulva: beijava a parte dos pelos, passava levemente a mão pela vulva, fingindo que ia enfiar um dos dedos, mas não o fazia. Beijei-lhe a virilha e, com a língua, passeei pelos lábios, por toda a parte lateral que me era permitida. Quanto mais ela suplicava para que eu finalizasse, mais eu gostava de torturá-la. Seus quadris rebolavam tentando me encaixar no ritmo que ela queria. Não deixei. Ainda beijando-lhe os arredores, apertei sua bunda, com as duas mãos, brincando com cada músculo de forma que fosse provocada uma "abertura" na entrada da vagina. A cada apertão e movimento para fora, era possível ouvir o estalar de sua vagina, devidamente molhada, abrindo e fechando, abrindo e fechando. Alice ficou maluca, eu fiquei maluca. Deitei meu corpo sobre o dela e penetrei-a com um dedo, brincava com força, não era eu quem controlava mais a força do meu braço. "Mais dedos", ela pediu. Eu podia sentir cada pelo do meu corpo se arrepiando. Obedeci e, de presente, Alice me deu um gemido rouco, entrecortado pela respiração ofegante. Depois de alguns minutos explorando todas as possibilidades que minhas mãos me permitiam, desci meu rosto sobre o corpo dela, respirando a energia que saltava de seus poros, beijando-lhe cada músculo sensível. Por fim, passei minha língua ao longo de seus lábios (vaginais, of course). Tudo estava quente, passei a língua uma única vez, devagar. Suas mãos prenderam meu cabelo com tanta força que eu pensei que fosse ficar sem o couro cabeludo! Fazendo uma espécie de rabo de cavalo com uma das mãos, Alice puxou minha cabeça para frente, me olhou nos olhos e suplicou, sem dizer uma palavra, que eu não saísse dali nunca mais, que eu a chupasse, que a penetrasse... Podem passar os anos e não vou saber exatamente o que ela queria. Era a mim que ela queria.

Chupei categoricamente cada parte que me estava disponível e, ao sentir que ela não segurava mais o mover dos quadris ou o som dos gemidos abafados pelo barulho do ventilador, enfiei-lhe dois dedos e, por fim, chupei seu clitóris. Ela gemia e ria ao mesmo tempo. Fiz o dever de casa. Não parei até que Alice contraísse cada músculo que envolvia meus dedos, não parei até que pudesse chupar-lhe todo o caldo produzido, não parei até que Alice soltasse um suspiro em tom de "fim".

Me puxou para encostar ao seu lado, enfiou a mão por dentro de minha calcinha e, ao ver que eu estava muito excitada, abriu um sorriso largo e me beijou. Rolou para cima de mim e me deu um beijo longo, lento, pesado. Agora era minha vez. Alice era uma mulher incrível que sabia fazer coisas incríveis.

"Te vejo no feriado?" - Foi a frase que ouvi por último na manhã seguinte. Eu sabia que Clara, sua filhinha, estava para passar o feriado com a mãe. Mas também sabia que não ia aguentar muitos outros dias sem encontrá-la novamente. Sua pergunta foi respondida com um beijo rápido. Pisquei para ela, que ficou com as bochechas rosadas, entrou no meu chuveiro e foi embora do meu apartamento às pressas, sem dizer mais nada.
Para fins de direitos de imagem, a foto utilizada neste post não é de minha autoria.

2 comentários:

  1. Oi Bia. Meu nome é Ronaldo. Trabalho com teatro, literatura, e tals... e estou falando isso só para esse contato não parecer uma cantada - porque não é.

    Mas, eu gostaria de te conhecer melhor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oooi ! =]

      Bom, a Bia é minha capa superprotetora...
      Me manda um email!

      biapalovic@outlook.com

      Beijos :*

      Excluir

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