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1 de ago. de 2015

E quando o amor acaba?

Saber que estamos apaixonados é muito, muito fácil, mas, como é que a gente faz para saber que o amor acabou?

casal-beijo-cama

A campainha toca e seu coração dispara. A respiração fica presa e o corpo paralisado por uma fração de segundo. Passada essa fração de segundo, você tem um disparo de alguma substância química no corpo que te deixa eufórica. A almofada do sofá está no lugar? Seu cabelo está cheiroso? A areia do seu gato está trocada? Lembrou de passar perfume? O jantar já está no forno? Não está meio brega essa velinha na mesa? Os lençóis! Os lençóis estão trocados? Tum-tum-tum-tum-tum seu coração vai explodir. Um frio na barriga sem pé nem cabeça vai e vem, te arrepiando a espinha mesmo antes que você atenda a porta. Você respira fundo, conta até 4 (porque ninguém consegue contar até 10 nessas horas) e abre a porta. Ele é o homem mais lindo do universo, puta que pariu, e escolheu você. Quando ele diz "Boa noite" e abre aquele sorriso, o piso da sua sala sai todo do lugar e os móveis começam a girar. Você tenta olhar para um ponto fixo no rosto dele, numa forma de mostrar para seu corpo que está tudo parado e normal, no seu devido lugar. Seus olhos se cruzam, vocês dão um beijo leve, macio, gostoso. Corre aquela gota de suor na sua nuca... É, é fácil a gente saber que é amor quando está apaixonado. Mas... e depois?

A ciência está aí para não me deixar mentir. 2 anos (dooooois anos): é o tempo médio de duração de uma paixão. Durante 2 anos seu cérebro associa a imagem daquela determinada pessoa a uma sensação indescritível de prazer e, então, cada vez que vocês se encontram, um pico de hormônios sexuais e neurotransmissores invade seu corpo te deixando piradinha da Silva. E aí é aquela merda delícia: você sonha com fulano, quer transar com fulano todo dia, fica maluca só de passar perto de alguém que usa o mesmo perfume que ele... Essas coisas do amor. Mas, quando a paixão acaba, o que é que fica?

Verdade seja dita, relacionamentos não são mantidos apenas por lembranças. Não existe casamento de 20 anos feliz, se for baseado apenas na lembrança dos 2, 5, 7 primeiros anos. A verdade é essa, como em "Como se fosse a primeira vez", o amor é aquela plantinha linda, forte, magnífica e que, mesmo assim, precisa ser regada todos-os-dias. E muita gente tem sucesso nisso. Muitos amores estão aí, rompendo barreiras, superando todo e qualquer tipo de dificuldade, enfrentando o tempo e sendo, todos os dias, regados e alimentados. O problema é que, vez ou outra, não importa o que seu amor faça para regar seu coração, não importa quantas flores, quantos chocolates, quantos passeios, quantas viagens, quantos cafunés ele faça para te fazer feliz: às vezes, mesmo assim, o amor acaba. E então vem a confusão: é fácil a gente ter certeza que ama alguém, mas, e quando não temos mais essa certeza, como é que podemos ter uma comprovação científica e matemática de que, sem porquê nem pra quê, o amor acabou?

A mania que ele tem de balançar a perna que você achava tão engraçadinha, agora te deixa maluca. O jeito como ele fala alto quando bebe além da conta, a selvageria do sexo quando está muito calor, o quanto ele é atrapalhado na cozinha, como ele tem a incrível capacidade de tropeçar em todos os móveis mesmo morando na mesma casa há 5 anos... tudo, tudo que você achava um charme, uma certa graça, agora perdeu todo o encanto, não é engraçado, não é fofo: te irrita, te deixa nervosa, te deixa, como eu disse, maluca. Como é que a gente faz para saber que isso é um sinal claro de que o amor já não mora mais naquela casa, naquele beijo, naquele abraço?

A verdade é que eu não sei. A verdade é que eu não tenho a mínima ideia e, como já passei por isso algumas vezes, acho que posso te aconselhar, com um pé no chão firme e outro pé bem atrás. Quando a gente escolhe deixar um amor de longa data partir, optamos por perder um pedaço da nossa história de vida, um pedaço de quem somos, de quem nos tornamos. É importante lembrar isso. Você provavelmente não pensaria como pensa, não conheceria as mesmas pessoas que conhece, não teria a mesma vivência sentimental e sexual, se não tivesse aquela pessoa ali, do seu lado, por tanto tempo. Mas, acima de tudo, é importante que saibamos distinguir amor de outro sentimento muito nobre, mas que, nessas horas, infelizmente, não pode falar mais alto que nosso amor próprio: a gratidão.

Eu sei que ele segurou sua mão quando sua avó morreu, sei que foi ele quem levou chocolates para te ajudar a enfrentar as TPMs mais pavorosas da sua existência, sei que foi ele quem te amou mesmo nos domingos descabelada, mesmo nos dias de faxina, mesmo naquela suspeita de gravidez indesejada. Eu sei. Mas, talvez, se não fosse ele, poderia ter sido, sim, outra pessoa. Poderia ter sido até sua mãe. Se você não tem mais brilho nos olhos ao encarar o homem que, um dia, sim, foi o grande amor da sua vida, você precisa parar de se forçar a amar alguém que, muito provavelmente, você agora só ama como amigo. Se você não se sente mais excitada, se seu coração não pula, se sua pele não vibra mais com o toque dele, então você precisa encarar, antes de tudo, a si mesma. Você precisa se olhar no espelho, enxergar a mulher maravilhosa que você é, perceber que, não, ele não é sua única chance de felicidade. Você precisa se olhar no espelho e ver que, sim, você foi a melhor companheira do mundo, você encarou seus limites, modificou seus defeitos para construir uma nação ao lado dele e, sim, você foi, o tempo todo, digna do amor que ele te deu. Mas, se agora, você não consegue mais retribuir este amor, se você não consegue mais sequer receber o amor que ele está te oferecendo, sim, é hora de deixá-lo ir. É hora de cortar o mal pela raiz, antes que você parta mais ainda o coração de alguém que se entregou de corpo e alma para você. Você, linda, não tem culpa nenhuma de não amar alguém que tanto te ama. Não existe matemática no amor. Sua obrigação agora é a de ser franca: com ele, consigo mesma, com seu coração, e de deixá-lo sair por aí, para, daqui um tempo - vai doer, ele vai sofrer, você vai sofrer, mas vai passar - distribuir todo esse amor imenso que ele tem para outra pessoa, para alguém que seja merecedor, para alguém que saiba receber, captar e lidar com todo esse amor e, acima de tudo, para alguém que saiba retribuir.

Deixe de lado a gratidão. Pense nas imensas possibilidades de ser feliz que você pode estar perdendo, por estar presa a alguém que você, muito provavelmente, não ama mais. Pense, acima disso, nas imensas possibilidades do outro ser feliz com alguém que podem estar sendo perdidas, pois você ainda não teve coragem suficiente de deixá-lo livre para sofrer, sangrar, se curar e, finalmente, amar novamente.

Nessa vida a gente tem que ter muito peito para se prender a alguém. E mais peito ainda para admitir que é hora de deixá-la partir.

Sobre a certeza se realmente deixou de ser amor? Fica calma, você nunca vai ter.
Para fins de direitos de imagem, a foto utilizada neste post não é de minha autoria.

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